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Quando tudo é o ‘maior da história’, como suportar um 1 a 1 ordinário?

A primeira quarta-feira da maior Champions League da história previa o primeiro jogo de um dos maiores encontros ofensivos da história, onde o novo reforço, possivelmente a maior contratação da história e um dos melhores jogadores da história, jogaria pela primeira vez no maior torneio de todos com outra camisa que não aquela em que protagonizou um dos maiores times da história.

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As aspas foram poupadas porque a redundância e o exagero são evidentes, mas na prática se tratava da visita do Paris Saint-Germain, com Messi, Neymar e Mbappé, a Bruges. O time francês saiu na frente, mas o Brugge, atual bicampeão belga, empatou logo e manteve um jogo parelho por todo o tempo, apesar do talento do ataque visitante.

Terminada a partida, trocando de canal para pegar um fiapo dos acréscimos no jogo vizinho, um narrador não teve dúvidas ao informar o placar que vinha da Bélgica: “estreia brochante”. O técnico Mauricio Pochettino já foi colocado na parede depois do jogo, tendo que se justificar e dizer o óbvio: que ainda é preciso construir um time.

São raríssimos os jogos de futebol que correspondem ao tamanho de sua expectativa. Neste caso, em que os superlativos são repetidos à vontade, essa relação parece ter alcançado um nível inconciliável: afinal de contas, o que se quer dum jogo de futebol?

A primeira meia hora foi até decente. Neymar tentava armar o time em sua capacidade rara em criar jogadas recebendo pressionado e de costas, e Mbappé, no primeiro mano a mano que pegou na ponta esquerda, entortou o marcador e deu o gol para Ander Herrera. Messi teve seus lampejos, esperando o momento exato do passe para deixar o francês na cara do gol – era só tocar para o brasileiro no meio, mas a finalização parou na mão do goleiro – e depois com sua chapa de sempre, a esquerda colocada, no ângulo, em que a bola foi caprichosamente na trave.

E não mais que isso. Mbappé sentiu uma pancada, depois outra, e saiu no começo do segundo tempo. O ataque sempre pareceu distante do resto do time, e um tanto estático. Contra um rival muito bem organizado e que não vai se atirar para cima de um dos favoritos ao título, o PSG não achou quase nada. Faltaram combinações, ultrapassagens, faltou entender como laterais e meio-campistas vão se comportar diante de três caras que teriam qualquer time do mundo voltado para explorar suas individualidades, mas aqui precisam combiná-las. Faltou um Neymar tinindo para sobrar, também.

Faltou ainda enxergar como outras lideranças do time poderão dar esse balanço para que a projeção de um ataque mágico não signifique uma escalação que pareça dividida entre sete carregadores de piano de um lado, três craques de outro. O Barcelona de Messi, Neymar e Suárez tinha como “coadjuvantes” (e pode encher de aspas aqui) gente como Daniel Alves, Mascherano, Busquets e Iniesta, jogadores em que a bola nunca queimou no pé e que sempre foram muito mais do que auxiliares de atacantes. Antes, o próprio Messi teve no onze referências como Puyol e Xavi. No dia difícil, eles te fazem crescer, não só torcem e suportam como fãs em campo. Talvez Verratti e Sergio Ramos possam ajudar nisso.

Em 1995, o Flamengo celebrou de véspera o melhor ataque do mundo, e no fim do ano Romário, Sávio e Edmundo brigavam contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. A temporada caótica ficou marcada pela briga contra o Vélez na Supercopa de 1995, a do soco de Zandoná. No fim, quem ganhou a semifinal contra o Cruzeiro foi um ataque com Aloísio Chulapa, Ueslei e Nélio, e na final, sem o Animal, o time carioca terminou com o vice, derrotado contra o Independiente.

Outra mais recente. Era o dia da estreia do Palmeiras na Copa Libertadores da América de 2017, e o grande portal esportivo do país promoveu uma eleição com três conceituados jornalistas para comparar o novo time com o campeão de 1999. De forma unânime, preferiram, entre outros, Borja a Oséas. O time fez uma primeira fase sem brilho e caiu nas oitavas, em casa, para o Barcelona de Guayaquil. O atacante colombiano nunca se firmou, virou reserva e está emprestado pela segunda vez, culpa de seu desempenho, mas também de uma irreal expectativa criada e preço desembolsado.

Não se aperta um botão para que esse jogador seja melhor que aquele, ou esse time mais encantador que o outro. Não se compara um time de papel com um de pôster de parede. Não se monta um time acumulando e somando qualidades, e sim criando relações entre elas. E para quem gosta de futebol é interessante, e curioso, ver se essa linha vai dar liga, e que liga, sob que concessões ou combinações, ainda que se venda Harlem Globetrotters e se entregue só um interessante 1 a 1.

O PSG enfrentará times muito motivados, completamente conhecedores do futebol de suas três estrelas e precisando buscar formas para que elas funcionem naturalmente, superando a pressão por ser um Dream Team inclusive dentro do próprio vestiário, ao permitir que fãs de Messi no elenco se coloquem como parceiros de um time estrelado.

Mas vale lembrar que talvez nunca seja possível corresponder ao jogo projetado. Se não vier o título, e mais, se não vier o título com frames para a história entre Messi, Neymar e Mbappé, terá sido, como disse o narrador, brochante. Um time que já começa a temporada sabendo que cair no meio do caminho terá sido um dos “grandes fracassos da história”. Fruto de viver na maior Champions League, do maior ataque, do maior jogador… E qualquer outra excepcionalidade à escolha. O jogo foi legal, tem coisa de bola e de campo e de cabeça para debater, mas, para o mundo em superlativo, foi pouco. E a impressão é que ninguém suporta.

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